A MATERIALIZAÇÃO DO PECADO

 Gosto de biografia porque aprendo muito com a história de vida das pessoas. A Bíblia tem muitas biografias. Temos a pequena biografia de Enoque (Gn 5. 18-24), também conhecemos o registro da vida de Jó (Jó 1). Dentre muitas outras, também temos a biografia de Noé (Gn 6. 8, 9). O registro da sua história é pequeno, mas os ensinos extraídos de sua biografia e daquele contexto são preciosos.


A síntese da biografia de Noé é contada dentro de uma moldura cujo relato apresenta uma sentença (Gn 6. 7). A maldade humana era praticada de modo escancarado naquela época. Não havia pudor nem temor. O contexto é sombrio. As cenas são marcantes. Por isso, Deus está decidido a destruir a raça humana.


A figura de uma moldura nos ajuda a olharmos a cena daquela época na qual viveu a geração de Noé. Por isso, a tomei emprestada para auxiliar a nossa compreensão daquele momento da história. Olhe para a moldura e veja a situação caótica daquela geração. Por exemplo, havia homicídio e existia também poligamia (Gn 4. 23, 24). Além disso, os crentes estavam casando-se com mulheres pagãs (Gn 6. 2), aquilo que é conhecido como casamento misto.


Note, que diante daquela circunstância, chega um determinado momento, que: “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gn 6. 5). Os mesmos olhos que viram a beleza da vasta criação (Gn 1. 31), agora veem algo que é mau (Gn 6. 5), algo que o faz pronunciar uma sentença de juízo sobre a humanidade.   


Depois de usar o conceito de maldade, para descrever o modo como a humanidade estava vivendo, o autor usa a palavra violência (Gn 6. 11). Mais adiante, além de empregar o conceito de violência, também é enfatizado quem era o agente da violência (Gn 6. 13). Era o homem quem praticava a violência. De modo que não precisamos do recurso de uma lupa para enxergar a situação de distanciamento de Deus por parte do povo daquela época.


Note, portanto, que há uma grande relação com a pintura da nossa geração e história. As semelhanças são inevitáveis. Não é preciso fazer uma graduação em sociologia para concluir que o nosso cenário não é legal. Hoje o crime organizado tem praticado atrocidade no contexto da sociedade brasileira. A perda de respeito pela autoridade tem sido algo vertiginoso cuja marca é a maldade materializada. 


Como que a maldade tem se processado hoje? Ela continua se manifestando de forma multiplicada, generalizada, continuada e pensada. A maldade tem se processado em todas as camadas da sociedade contemporânea. Traços da maldade podem ser vistos por meio do racismo, da discriminação, da marginalização, do feminicídio, do abuso infantil, da corrupção, da injustiça social e do aborto, apenas para citar alguns exemplos. Ela se processa também pela verbalização, pela violência emocional, e, por fim, por intermédio da violência física.


Diante daquilo que aconteceu, penso que não é exagero dizer que a violência atrai o juízo divino. Sabe por quê? Porque a violência é a materialização do pecado contra pessoas criadas à imagem de Deus. O anúncio da condenação, portanto, tem como causa a violência humana. E, portanto, a violência é algo tão sério que após o dilúvio, Deus cria a pena de morte (Gn 9. 6). A bem da verdade, o Senhor não tolera a violência.


Gênesis 6 é uma passagem bíblica que faz uma apresentação de um mundo cuja decadência moral era uma marca daquela sociedade. De lá para cá as coisas não melhoraram. Definitivamente vivemos em um mundo anormal. Vivemos numa sociedade infectada pelo vírus letal do pecado. Vivemos numa sociedade que caminha para a autodestruição. Vivemos numa sociedade de morte e violência.


Entretanto, assim como Noé achou graça diante de Deus (Gn 6. 8), assim também é possível que em meio às densas trevas, surge o, “porém” de Deus para a nossa geração. Assim como a graça de Deus foi concedida a Noé, assim também é possível que o Senhor Jesus, como o “porém de Deus”, seja a graça essencial e suficiente para a nossa geração em meio ao caos e às trevas. Oro para que a graça do Senhor alcance também a nossa geração.

Por: Rev. Fabio Henrique de Jesus Caetano.

Pastor efetivo da IPGII / DF.

 

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