ESPERANÇA RAIVOSA

 Jonas saiu da cidade. O profeta foi embora. Ele ficou de longe. “Em vez de voltar à cidade para ensinar e pregar, ele ficou lá do lado de fora, na esperança de que talvez Deus ainda os julgasse” (Tim Keller). O profeta afastou-se da cidade porque tinha uma esperança remota de que talvez Deus pudesse mudar de opinião. Na primeira vez Jonas esquivou-se dormindo no porão do navio. Agora, Jonas foge, pondo-se à sombra para assistir de camarote o que Deus haveria de fazer.

Jonas encontra-se frustrado e irado porque os ninivitas não foram destruídos. Ainda assim, continua nutrindo uma esperança raivosa, a qual é alimentada por um rancor incubado no coração, pois quer ver a cidade ser destruída. Note a expressão: “[...] até ver o que aconteceria à cidade” (Jn 4. 5). Portanto, note que o profeta ainda nutre no coração uma expectativa de que talvez a cidade seja destruída.

Talvez tenha saído da cidade porque tinha em mente o que havia acontecido com as cidades de Sodoma e Gomorra. Talvez o profeta estivesse pensando numa moldura histórica, ou em um padrão que conhecia como fato histórico (Gn 19. 27-29). Por isso, Jonas escolhe um lugar para manter uma certa distância da cidade, porque os seus anseios lutam contra os fatos.

Quem sabe Jonas tenha feito até uma “contagem regressiva”. Talvez tenha dito: “faltam 39 dias, faltam 38 dias para a cidade ser destruída”, e assim por diante. O profeta fica de longe com sua expectativa imaginária. Por que esperança imaginária? Porque cultiva uma esperança que é contrária ao seu conhecimento, bem como é contrária às evidências empíricas pessoais. Sua esperança não tem fundamento para existir. Mas, mesmo assim, o profeta espera contra a esperança.

Por que Jonas age assim? Porque cultiva uma expectativa de que Deus talvez possa corrigir o “equívoco”. “Ele está decidido a permanecer firme na esperança de que Deus, com o passar do tempo, reconsiderará sua posição desferindo a retribuição sobre Nínive” (T. Desmond Alexander). Na verdade, Jonas é uma versão antecipada do filho mais velho da parábola do filho pródigo. O profeta se afasta. Ele não tem alegria para se juntar aos arrependidos.  Não tem alegria para celebrar com aqueles que se voltaram para Deus.

A esperança raivosa do profeta Jonas sugere algumas conclusões aplicativas, a saber: Em primeiro, um pregador pode realizar sua missão pregando para as pessoas e ainda assim não se importar com o destino delas. O pregador pode passar pela cidade, mas não pretende ficar na cidade porque não ama as pessoas daquele lugar. Em segundo, uma igreja pode estar numa cidade e ainda assim não amar as pessoas de lá. Convive com as pessoas, mas não deseja a salvação delas.

Sendo assim, quando agimos dessa maneira mostramos nossa indiferença para com Deus, mas também a nossa frieza para com o nosso semelhante que precisa do evangelho. Ainda, quando agimos assim, mostramos o quanto estamos acomodados e contentes com a nossa própria vida. Por fim, quando agimos assim, mostramos que não temos a capacidade de olhar para a cidade como Jesus olhou. Não temos sido capazes de olhar com compaixão como nosso redentor olhou para as multidões que estão dentro das cidades. Que o Senhor Jesus nos livre da esperança raivosa!


Por: Rev. Fabio Henrique de Jesus Caetano.

Pastor efetivo da IPGII/DF.


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