O VELHO VAI MORRER
O VELHO VAI MORRER
No Brasil é comum ouvirmos no fim do mês de dezembro que o
velho está no CTI. Essa expressão visa a sinalizar que o fim do ano corrente
está no balão de oxigênio, dando os seus últimos suspiros. Todas as vezes que
pronunciamos essa frase, a tônica é a ênfase no término do ano vigente; porém,
por detrás dela tem outra verdade,
salientamos que estamos prestes a iniciar um novo ano. Todavia, para que se
inicie o novo o velho tem que terminar. O ano novo só tem início definitivo
quando o ano velho é finalizado.
Para muitos, no entanto, o ano novo vem mesclado de uma
mistura de sentimentos, é um tempo de tensões, de retrospectivas e uma
oportunidade para olhar o futuro. O novo traz consigo expectativas,
possibilidades e desafios. Todavia, traz também insegurança, vem acompanhado de
ameaças, riscos e perigos. Por essas razões é que quase sempre preferimos
injetar vitamina naquele cuja vida já deu seus honrosos e preciosos frutos.
Porém, mantê-lo com vida implica dispendiosos custos financeiros, desgastes
físicos e comprometimento emocional.
Diante disso, às vezes chegamos à fatídica conclusão de que
o método velho precisa morrer mesmo. Referimo-nos aqui a métodos que foram
pródigos em eficiência, deram maravilhosos frutos e resultados, mas, que agora,
não passam de instrumentos sem vida e obsoletos. É verdade que, com a chegada do novo, nem
sempre é preciso que o velho morra imediatamente, mas, logo, logo terá que ser
substituído definitivamente. O velho precisa dar lugar ao novo. Os métodos vem
e vão. Não é sábio absolutizar os métodos. Sacralizar meios é banir a
criatividade. Algumas pessoas descobrem que é possível fazer certas coisas de
forma diferente do passado. Elas encontram modos mais eficazes, e, o que é melhor, sem
sacrificar a verdade ou a essência. Por isso, toda geração precisa reavaliar os
contextos nos quais está inserida. Cada situação exige uma nova leitura, a
viabilidade de meios e as maneiras de atingir alvos precisam ser gestadas.
Entretanto, para que isto aconteça é necessário que o velho morra para que o
novo nasça.
Que o velho um dia vai morrer é fato. Podemos impedir a
fertilização de uma nova gestação com as famosas pílulas de resistência e
preconceito, mas, num momento ou noutro, o óvulo da criatividade será fecundado
e dará vida à necessidade. Isso não é uma possibilidade, mas uma realidade
escatológica. O velho morrer faz parte
do ciclo natural. Porém, quando o velho tem que morrer definitivamente? A troca
deve ser feita por motivos justos. As mudanças devem ser realizadas por razões
nobres. Nossas decisões devem ser fruto de profundas avaliações. Tudo quanto
tivermos que fazer em termos de substituições não pode ser por causa do modismo
imediatista, mas por conta das comprovações de que algo ficou inviável, ineficiente
e ineficaz. Não é porque é velho ou obsoleto, mas porque é irrelevante que
precisa dar lugar ao novo.
Ah! Deus é uma pessoa criativa e inovadora. Ele ama o
progresso. O Deus a quem servimos é zeloso e inovador. Ele afirma por
intermédio de sua palavra que as mudanças são necessárias quando o novo é
excelente em detrimento do velho. “Quando ele diz Nova, torna antiquada a
primeira. Ora, aquilo que se torna antiquada e envelhecido está prestes a
desaparecer” (Hb 8. 13). O Senhor tem uma única aliança, porém, ela fora
administrada por diversos modos. Deus, nunca, jamais abre mão daquilo que é
absoluto. Todavia, Ele jamais fica preso com aquilo que é secundário.
Entendamos uma coisa, o antigo enquanto método, sempre
cumpre o seu papel na história, no tempo e na circunstância que exigiu o seu
nascimento. Ninguém deve ignorar a relevância do velho na história. Porém, não
é sábio manter a hegemonia daquilo que deixou o seu valor no que tange a
eficiência no passado. A rememoração do passado tem o seu valor, mas viver um
saudosismo nostálgico é perigoso e atrofia a capacidade de pensar. Quem fica
preso ao passado dificilmente efetuará alguma conquista no futuro.
Uma
placa que sinaliza a existência de uma curva perigosa não deve ser removida.
Todavia, se a curva for retirada não faz mais sentido manter a placa. Ela perde
o seu valor local e circunstancial. Talvez até seja utilizada noutra região,
mas ali perdeu a sua relevância. A extinção de algo sacralizado pode ser ruim,
causar desconforto, mas algumas vezes é necessária. A única coisa que jamais
deve ser mudada é a essência. Os absolutos não podem nem devem ser removidos.
Todavia, os modos de aplicá-los podem ser descobertos e experimentados.
Portanto, não confundamos essência com meios.
Um comentário:
"Podemos impedir a fertilização de uma nova gestação com as famosas pílulas de resistência e preconceito, mas, num momento ou noutro, o óvulo da criatividade será fecundado e dará vida à necessidade" Muito bom pastor, ta virando um poeta ein!!! Que Deus continue te usando para abençoar as pessoas com esses textos, muito pertinentes para os dias de hoje!!
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