A melhor decisão da vida.
Na vida estamos sempre tomando decisões. Escolhas são feitas a todo tempo, em várias situações da vida. Algumas são emergenciais; outras podem ser amadurecidas pela reflexão e ponderação. Existem decisões acertadas; há outras que são trágicas, pois foram feitas de modo impensado e repentino. Agora mesmo você tomou uma decisão: a decisão de ler este texto. Procedemos assim porque fomos dotados de liberdade. Podemos fazer ou não fazer algumas coisas por conta da liberdade que temos.
Desde o início foi assim. A história da humanidade dá conta que houve um tempo no qual o homem quis andar à parte da presença de Deus. Os nossos primeiros pais tomaram uma decisão. Foi uma decisão insana. Foram instigados a escolherem um caminho fora do plano do Criador. Os nossos pais buscaram autonomia. No uso de sua liberdade decidiram romper a relação pactual com o seu Deus e Criador. Que tragédia! Por conta disso, colheram como consequência a perda da comunhão, atando sobre os ombros o fardo pesado da culpa, culminado com o medo e tomando o caminho da fuga. Foi uma péssima decisão.
Mais tarde, porém, a Escritura viria a falar sobre homens que voltaram a andar na presença de Deus. O Senhor não deixou o homem em sua condição de perdição. Foi ao encontro do ser humano. O atraiu para uma relação de convívio marcada por comunhão e deleite. Daí surgiram alguns personagens cuja Palavra de Deus fala que andaram com o Senhor, dentre os quais Enoque e Noé. “Andou Enoque com Deus […]”, “Nóe andava com Deus [...]” (Gn 5.22,24; 6.9). Isso é simplesmente magnífico. São personagens cujos fatos são respaldados pela história. Por isso, os verbos se encontram no passado.
Já no Salmo 116.9, o salmista emprega o verbo no futuro. Ele diz: “Andarei na presença do Senhor, na terra dos viventes”. Não porque era algo que seria iniciado no dia seguinte, mas porque aponta para um compromisso do coração. O salmista já andava na presença do seu Senhor, era algo que já estava em curso. Havia um caminhar acontecendo, não que estava para acontecer. E ao ler a decisão do nosso irmão: “Andarei na presença do Senhor, na terra dos viventes”, podemos extrair pelo menos três verdades.
1) A melhor decisão da vida envolve um movimento (Sl 116.9). O texto é muito claro, ele diz: “Andarei”. Isso não se trata estritamente de movimento físico. Não são exclusivamente os passos dados tendo como instrumentos os pés. Envolve o caminhar, mas é um movimento que vai para além de pés no chão. Esse “Andar” envolve o movimento de todo o ser. Trata-se de uma volição da aspiração. Trata-se do movimento do coração. São as afeições movimentando-se por meio de decisão resoluta. A vida como um todo não é estática. A vida tem o seu movimento contínuo. Ela é dinâmica. No movimento que a vida faz, decisões são tomadas e escolhas são feitas. O salmista decidiu andar na presença de seu Redentor. Dois aspectos marcam essa decisão:
a) Ela é pessoal. Tem decisão que é comunitária. Não pode ser feita sozinho pois precisa de outras pessoas para que tudo seja alinhavado. Porém, há decisão que é estritamente pessoal. O indivíduo precisa escolher sozinho, sem a interferência de terceiros, pois será cobrado de modo individual. A decisão por andar na presença do Senhor não pode ser feita por causa de outras pessoas, mas deve ser feita por causa da Pessoa de Deus. Ninguém pode decidir por você sobre o andar na presença de Deus. Pode até acontecer que haja uma contribuição para que a decisão seja efetivamente tomada, mas o resultado final passa pela pessoalidade. Você tem andado na presença do Senhor? Você já decidiu que vai andar na presença d’Ele? Querido, você precisa tomar uma decisão agora. Adiá-la é um perigo. Transferi-la é impossível. Sabemos que tem gente que decide ficar parada, tem gente que não anda, e tem gente que é empurrada pela vida. Mas, nessa matéria é você quem decide.
b) Ela é pensada. A melhor decisão da vida não é fruto de circunstâncias. Não brota numa noite em que as emoções afloram. Não mesmo, ela é pensada. Ela pondera fatos. Os eventos que aconteceram na vida são levados em conta. E, sobretudo, considera a pessoa que agiu na história para que as coisas fossem concretizadas.
Daí notamos o seguinte: 1) a decisão que é passada pelo crivo do intelecto faz uma leitura daquilo que aconteceu. Do ponto de vista da relação com o Senhor são considerados os seguintes itens: quem eu era, como eu estava e o que foi feito por mim e em mim (Sl 116.3, 6, 8). 2) Também faz uma leitura daquilo que está acontecendo agora. Por isso, o salmista traz um encorajamento à sua própria vida. Ele diz: “Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo” (Sl 116.7). Recomenda a que sua alma se aquiete. Ou seja: não fica apenas no passado, consegue discernir também o que tem acontecido no presente. O que leva ao próximo aspecto: 3) A decisão pensada que considera o passado e consegue analisar o presente, tem grandes projeções para o futuro. Portanto, porque envolve o intelecto, ela faz projeção para o futuro vinculada com uma pessoa maior. É como se dissesse: o Senhor me alcançou. Ele livrou-me da morte. Graciosamente tem cuidado de mim. Minha vida tem sido alvo do amparo constante de seu paternal cuidado. Logo, não posso conceber minha vida longe da presença d’Ele. Diante disso, eu digo: “Andarei na presença do Senhor, na terra dos viventes”. Isto é maravilhoso! Sabe por quê? Porque a fé não é um salto no escuro, ela não é cega nem tola. A fé enxerga muito e é inteligente.
Agora vamos para a segunda verdade.
2) A melhor decisão da vida envolve uma pessoa (Sl 11.9). O movimento é de uma pessoa para outra pessoa. A pergunta é: quem é a outra pessoa? O salmista diz: “Andarei na presença do Senhor”. É a pessoa de Deus. A pessoa perante quem o salmista decidiu andar não é da mesma estatura dele. É uma pessoa maior do que ele.
Perguntamos novamente: quem é essa pessoa? É a pessoa que ama o salmista e que é amada pelo salmista. Dela o salmista diz: “Amo o Senhor”. Mais tarde o evangelista haveria de dizer: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19).
Além disso, também é uma pessoa que ouve o crente. “Amo o Senhor, porque ele ouve a minha voz e as minhas súplicas. Porque inclinou para mim os seus ouvidos” (Sl 116.1, 2). O Senhor Deus ouve, e ouve com atenção e com interesse. Ele se inclina para ouvir a oração do justo. O Grande ouve o pequeno, o Todo-Poderoso ouve o fraco, o Santo e puro de olhos ouve o pecador.
E mais, o salmista diz: “achava-me prostrado, e ele me salvou” (Sl 116.9). Diz mais: “Pois livraste da morte a minha alma, das lágrimas, os meus olhos, da queda, os meus pés”. Ele é o Salvador. Ele livra da morte, elimina a angústia e enxuga os olhos.
A pessoa maravilhosa perante quem o salmista decide andar é “Compassivo e justo é o Senhor; o nosso Deus é misericordioso” (Sl 116.6). Essa pessoa é o Deus da aliança. O Deus que decidiu fazer um pacto eterno com o seu povo. Ele é o Deus da nossa salvação. Tudo isso fica palpável na pessoa bendita do Filho Eterno de Deus, o Senhor Jesus Cristo.
Além de destacar que a melhor decisão da vida envolve uma pessoa, também é importante frisar que existem duas implicações dessa decisão:
Primeira implicação. Quem decide andar na presença do Senhor precisa saber que vai viver sob à luz de seus olhos. Com isso, nada fica fora de suas vistas. Dele não é possível ocultar nada, pois ele vê tudo e sabe tudo. É por isso que o salmista disse: “Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa” (Sl 139.11, 12).
Segunda implicação. Andar na presença do Senhor significa andar sob a luz de seu ensino. Os rumos da vida, os caminhos a serem seguidos, assim como as escolhas, tudo isso não será mais feito com base no que penso ou sinto, mas com base no que o Senhor diz.
O salmo de Davi sintetiza essas duas implicações de modo magistral quando escreve o que o Senhor promete: “Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho” (Sl 32.8). Andar na presença do Senhor é saber que estamos andando debaixo de suas vistas e sob a condução de seus conselhos. Ele é o Pai amoroso. Ele contempla os seus filhos e fornece direção para o seu povo. Quem decide andar na presença do Senhor precisa ter tudo isso em mente.
Daí chegamos à terceira verdade.
3) A melhor decisão da vida envolve um lugar (Sl 116.9). A decisão que envolve movimento e pessoa, também contempla lugar. Lugar é tempo e espaço, é onde acontece o movimento de andar. Acho muito bonita a expressão “terra dos viventes” e gosto de chamá-la de mundo dos homens. Aqui no espaço, tempo e lugar acontece a experiência da vida.
Aqui ouvimos histórias. Histórias longas e histórias curtas. Histórias encantadoras e histórias deprimentes. Histórias alegres e histórias tristes. Histórias de superação e histórias de fracasso. Uma imensidão de histórias acontece aqui. Além de ouvir as histórias, com o tempo também viramos histórias. Se não histórias que terão alcance universal, pelo menos histórias que alcançam nossa família. Não importa, é assim que acontece.
Ainda aqui, temos diversas experiências. As experiências vividas são marcantes e deixam marcas. São experiências boas e ruins, com durações longas ou com o tempo curtíssimo, que não passam de poucos segundos. Alegrias são experimentadas, mas a tristeza também faz parte de todo o bojo. Muitos motivos para o riso surgem, mas também, por vezes, as lágrimas rolam. As experiências são paradoxais. Vêm de diversas matizes, com profundidades distintas. Tudo isso acontece no mundo dos homens.
A decisão tomada pelo salmista considera as várias cores daquilo que se passa no mundo dos viventes. E é na terra dos viventes que ele decide andar na presença do Senhor. Veja algumas pinturas do que estamos considerando. Há vários termos utilizados para descrever o que pode acontecer aqui: laços, morte, cercado, angústia, inferno, tribulação, tristeza, prostrado, desassossego, morte, lágrimas, queda, aflição, perturbação e mentira” (Sl 116. 3, 6, 7, 8, 10, 11). Todos os termos citados exprimem os dramas enfrentados pelo ser humano na terra dos viventes. Logo, ninguém passa pelo mundo sem passar por tais experiências. Porém, você pode escolher com quem vai enfrentar os percalços da vida aqui nesse mundo. O salmista decidiu andar na presença do Senhor.
E você, já tomou a sua decisão? Vai ficar sozinho? Ou vai ficar com o Senhor? Deixemos claro: andar na presença do Senhor não é garantia de isenção de lutas durante a peregrinação pelo mundo. Todavia, estando com o Senhor existe a possibilidade de experimentarmos o milagre da intervenção divina, porque estando em dificuldade, o crente pode alçar um grito de socorro aos céus. Foi o que o salmista fez: “Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; caí em tribulação e tristeza. Então, invoquei o nome do Senhor: ó Senhor, livra-me a alma” (Sl 116.3, 4). O servo de Deus estava numa situação aparentemente sem saída, foi então que gritou por ajuda. E o que aconteceu? Aconteceu o milagre. O salmista testemunha dizendo: “Pois livraste da morte a minha alma, das lágrimas, os meus olhos, da queda, os meus pés” (Sl 116.8).
Ainda se faz necessário ressaltar que a expressão “terra dos viventes” aponta para a amplitude geográfica enquanto acontece o movimento da vida, assim como as múltiplas circunstâncias. Duas lições: primeira, andarei na presença do Senhor onde quer que for. Não importa se perto ou longe, em minha pátria ou em terra estrangeira, eu andarei na presença do Senhor. Aqui, ali ou acolá, o salmista resolutamente já decidiu o que vai fazer: ele vai andar na presença do Senhor. Que maravilha de mensagem! Segunda: andarei na presença do Senhor em quaisquer circunstâncias. Não importa se é dia ou noite, faça chuva ou faça sol, se a situação é boa ou se é ruim, confortável ou sofrida, se existe fartura ou escassez, saúde ou doença. Diante de diversas possibilidades paradoxais o salmista diz vibrantemente: “Andarei na presença do Senhor, na terra dos viventes”.
A melhor decisão da vida começa aqui, mas não termina aqui. Tem começo nessa vida e avança para além dos portais eternos. Por isso, quem não toma a decisão de andar na presença do Senhor Deus aqui e agora, não estará na presença d’Ele para viver gostosamente na eternidade. Aquele que rejeita caminhar perto da presença de Deus, será banido para sempre da sua presença na eternidade. A decisão quanto ao futuro é consequência de algo que já está acontecendo. O salmista não iria começar, ele já andava na presença do Deus gracioso e bom. Algo que acontecia no presente, mas que teria continuidade no amanhã. De sorte que a melhor decisão da vida é uma ratificação do que aconteceu no passado.
O salmista foi chamado pela graça para andar na presença do Senhor assim como aconteceu conosco. Andamos na presença d’Ele porque fomos alcançados pela sua maravilhosa graça. De uma forma eficaz fomos atraídos e conquistados. Isso aconteceu quando o Senhor Jesus nos chamou pela pregação do evangelho e ação do Espírito de Cristo. Eu pergunto a você: Ele te chamou? Ele está te chamando? Qual foi a sua decisão? Qual tem sido a sua decisão? Com quem você vai decidir andar? Vai continuar sozinho no mundo? Escolha andar com aquele que jamais abandonará você. Ande com Ele todos os dias de sua vida. Ande com Ele em todas as situações da vida. Ele nunca jamais te deixará à mercê da sua própria sorte. Creia nisso! Experimente um tempo novo em sua vida. Diga como o salmista: “Andarei na presença do Senhor, na terra dos viventes”. Amém!
Por Rev. Fabio Henrique de Jesus Caetano.
Pastor da Igreja Presbiteriana do Guará II – DF.
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