DE VOLTA À MESA
A sociedade contemporânea ocidental tem perdido muitos de
seus bons costumes. Muitas práticas e valores que faziam parte da nossa
sociedade já foram abandonados. O bom ritual de uma família à roda da mesa é
uma prática soterrada pelos escombros do passado. O inglês Anthony Daniels,
mais conhecido pelo seu pseudônimo de Theodore Dalrymple, comenta que “[...]
sob o ataque da crítica racionalista, a ponto de, em mais de um terço das
famílias britânicas, as crianças nunca se sentaram junto à mesa com outros membros
da família”. Isto é lastimável. Ainda numa constatação de sua realidade,
Daniels afirma que: “De fato, a própria possibilidade desse ato não mais
existe, uma vez que não mais existem mesas de jantar em boa parte das casas”.
Claro, não é a nossa realidade. Muitos de nós temos mesas lindíssimas,
acompanhadas de cadeiras hiper confortáveis. Todavia, para muitas famílias é
apenas um aparato da decoração da casa. Quando usada, é apenas para receber
amigos ou visitas, mas nunca usada de forma mais constante com aqueles que
deveriam, ou seja, os membros da família.
Uma crítica
foi dirigida contra a sociedade, o que acabou por afetar os bons hábitos do
menor núcleo de uma sociedade saudável, isto é, a família. Então, as famílias
não têm mais a mesa como lugar de realizar o ritual da refeição. Como se não
bastasse, a nossa geração é fruto de um espírito acelerado e uma mente
inquieta. Nossos filhos não conseguem ficar quietos por uma hora sequer e nem
mesmo os adultos. Pensamos que temos que estar fazendo alguma coisa o tempo
todo. Porque, afinal, tempo é dinheiro, afirmam alguns. Com isso, o que
comunicamos com a nossa atitude é o seguinte: “não posso parar para ficar à
roda da mesa com a minha família para tomar uma refeição e papear um pouco,
porque fazê-lo trará prejuízos financeiros”. Contudo se ganha dinheiro, mas,
perde-se a família, acumulam-se bens, mas os relacionamentos ficam
fragilizados. Construímos uma família com afetos relacionais frágeis e
adoecidos. Os membros da família não se conhecem o suficiente para perceber,
pelo olhar, que alguma coisa não vai bem. Estamos debaixo do mesmo teto, mas
nunca juntos o bastante para desfrutar de um convívio familiar saudável e
enriquecedor.
Daí aparece
o COVID-19. Ele fez a sociedade se recolher. Não foi um ato voluntário, mas
veio por meio da sanção da lei. As autoridades cíveis tiveram que decretar para
que o povo parasse de circular. Agendas foram canceladas e compromissos foram
desmarcados. Há perdas, sem dúvida alguma. A economia tem sido solapada, porém,
inegavelmente também há ganhos. Durante uma crise, as perdas são inevitáveis,
todavia muitas lições também são aprendidas. Fomos parados pela crise do coronavírus. Doutro modo não o faríamos.
Somos ocupados demais para tal feito. Nossos compromissos são inadiáveis.
Todavia, uma placa vermelha foi levantada na pista na qual estávamos a toda
velocidade, Pare! Proibido correr. Daí podemos tirar proveito de tudo que tem
acontecido. O momento traz instruções preciosas para as famílias, dentre outros
ensinos, o caminho da redescoberta do convívio familiar. Cá pra nós, o
relacionamento familiar da maioria da sociedade não vai muito bem. Não
suportamos ficar um dia inteiro com os nossos filhos; arrumamos mil e uma
atividade para que eles fiquem o dia todo fora de casa. A vida devocional da
família tem sido cada vez mais comprometida pelo espírito da época.
Todavia, as
mudanças de hábitos frutos de uma geração agitada têm dado lugar às boas
práticas que há muito tempo estavam esquecidas, dentre as quais, a redescoberta
da mesa viva pelas famílias, não mais como simples objeto decorativo. As
famílias têm tido a sublime oportunidade de voltarem à mesa. Aproveitando o
tempo, que outrora dizia não ter, para tomar as refeições comuns no lar. Pois
por muito tempo cada membro da família servia a sua refeição, pegava o seu
aparelho smartfhone e se dirigia para
um canto da casa, isso estando debaixo do mesmo teto, mas vivendo isoladamente.
Desconecte-se do mundo virtual. Pare tudo! Abandone a pratica de comer no sofá
ou no quarto; não desperdice essa chance que a circunstância atual nos
concedeu. Converse sobre o cuidado do Senhor; coma devagar; sinta o prazer de
cada item da refeição. Desligue o seu aparelho celular, o seu televisor.
Resgate o que outrora foi perdido. De volta à mesa pode se tornar um hábito a
ser transmitido para as futuras gerações. Um hábito por meio do qual as
relações serão fortalecidas. De volta à mesa é algo muito especial, fundamentalmente
necessário e extremamente saudável.
“Bem-aventurado aquele que teme ao
SENHOR e anda nos seus caminhos. [...]. Tua esposa, no interior de tua casa,
será como a videira frutífera; teus filhos, como rebentos da oliveira, à roda
da tua mesa” (Salmo 128. 1, 3).
Por: Rev. Fabio
Henrique de Jesus Caetano
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