O DILEMA DO CRISTÃO
O escritor Inglês, John Bunyan, em
sua magnífica obra “O Peregrino”, cuja publicação aconteceu em 1678 na cidade
de Londres, revela criatividade literária, bem como maestria para escrita. Na
referida obra, Bunyan concede vida às virtudes que se tornam pessoas em sua
ficção. A personificação de tais virtudes ganha corpo, voz e a capacidade de
argumentar com o personagem chamado Cristão, cujo alvo é a Cidade Celestial.
A caminhada de Cristão é marcada por muitos embates. Diversos desafios aparecem
no percurso da jornada. Outra coisa digna de nota é que, durante a jornada, Cristão
recebe vários ensinos sobre a vida cristã. Muitas instruções são recebidas. Ele
é orientado sobre o que fazer, assim como o que não fazer, sobre o caminho a
trilhar, bem como o caminho a ser evitado. Os ensinos vêm tanto para ressaltar
os desafios da vida cristã quanto para estimular Cristão que ruma para a Cidade
Celestial. Lutas surgem pelo caminho, mas também não falta auxílio, consolo e
encorajamento para que a caminhada seja exitosa. Os ensinos são multifacetados.
Quando digo que são várias as instruções, são várias mesmas. A leitura é empolgante,
além de ser muitíssima instrutiva e enriquecedora.
Porém, quero
pontuar algo que versa sobre a vida pregressa de alguém que foi conduzido até à
cruz, lugar no qual fica cravado o escrito de dívida que nos era prejudicial
(Cl 2. 13-15). Na linguagem de Bunyan, quando Cristão chega à cruz o fardo é
retirado de seus ombros. Assim, sente alívio e experimenta uma alegria
indizível. Na cena criada por Bunyan, três seres resplandecentes aparecem
quando Cristão se aproxima da cruz, cada qual com uma missão. O primeiro
declara: “Os teus pecados estão perdoados”. O segundo retira as velhas roupas,
para então o vestir “com nova muda de roupas”. O terceiro grava um sinal na
testa de Cristão e o concede o rolo para ser lido durante a viagem. Cristão acolhe
tudo de bom grado. E assim, prossegue de modo altruísta. Depois de vencer
diversos perigos, etapas e desafios, Cristão finalmente chega ao Palácio Belo,
ainda não é o céu, mas um lugar necessário. Ali é atendido pelo porteiro
Vigilante, que logo apresenta três donzelas: Piedade, Caridade e Prudência.
Prudência faz algumas perguntas a
Cristão, dentre as quais, quero citar duas, bem como suas respectivas respostas,
pois são bastante instrutivas para o povo de Deus. Prudência pergunta: “Você às vezes não pensa na terra de onde
veio?”. Cristão responde: “Penso,
mas com muita vergonha e ódio”. A experiência do personagem de John Bunyan
é algo também experimentado por todos aqueles que tiveram um encontro salvífico
com o Senhor Jesus. O passado de pecado não é uma coisa lembrada com entusiasmo,
pelo contrário, vergonha, tristeza e ódio é o que sente um verdadeiro cristão.
Quanto a isto, Paulo afirma: “Naquele
tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos
envergonhais; porque o fim delas é a morte” (Rm 6. 21).
Após ouvir a
resposta de Cristão, Prudência pergunta novamente: “Você ainda não continua
tolerando algumas das coisas com que estava familiarizado antes?”. Cristão
reponde pela segunda vez: “Continuo, mas muito contra a minha vontade,
especialmente os pensamentos íntimos e carnais, com que todos os meus
conterrâneos, como também eu mesmo, nos deleitávamos. Mas agora todas essas
coisas me doem e, pudesse eu escolher meus próprios pensamentos, preferiria
jamais tornar a pensar nelas. Porém, quando quero fazer o que é melhor, vejo
que as piores coisas estão ainda em mim”. O apóstolo Paulo já havia falado alguma coisa
semelhante, o que me leva a crer que mui provavelmente Bunyan estava pensado no
que fora ensinado pelo apóstolo: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal
que não quero, esse faço” (Rm 7. 19). Todos aqueles que nasceram de novo já
enfrentaram tal dilema. O princípio da nova vida não elimina o dilema que se
trava durante a caminhada cristã. O processo da santificação depara-se com os
resquícios ainda do pecado. Enquanto não adentrarmos os portões celestiais
vamos enfrentar a luta.
Mas, por fim, o Espírito triunfará definitivamente. As duas respostas de Cristão ensejam duas
verdades. Primeiro: temos nosso passado de vergonha e culpa. Lembre-se,
entretanto, que o seu passado foi resolvido por meio daquilo que Cristo fez.
Ele morreu pelos nossos pecados. Segundo:
vivemos um presente de luta. A vida cristã é marcada por uma crise interna
enquanto o processo de santificação acontece. Responda sempre obediente ao
chamado do evangelho, pois só assim ficará consolidado em seu coração a
gloriosa verdade que diz: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa
obra em vós há de completa-la até o Dia de Cristo Jesus” (Fp 1. 6). Glória a
Deus! Amém!
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