OS MODERNOS FARISEUS
OS
MODERNOS FARISEUS1
Os
cristãos das igrejas da Galácia haviam iniciado a caminhada cristã
de modo correto. A pregação chegou aos gálatas como uma mensagem
num outdoor, cujo anúncio havia causado um impacto profundo e
transformador. O evangelho que receberam foi o da graça de
Deus, cujo cerne era a pessoa de Cristo, sua morte
e ressurreição. A mensagem da graça tinha desarraigado
aqueles crentes do mundo perverso. Todavia, não demorou para
que os cristãos que foram alcançados pela pregação do evangelho
sofressem um forte assédio por parte do legalismo judaizante. Os
judaizantes pregavam um evangelho híbrido, porque ensinavam que era
preciso adicionar a lei da circuncisão ao evangelho da graça, para
a salvação. Com isso, além de desviar e perturbar os crentes,
também pervertia “[...] o evangelho de Cristo” (Gl 1. 7).
Na
verdade, eles pregavam outro evangelho. O ensino judaizante havia
enfeitiçado a mente daqueles que haviam recebido o evangelho da
glória de Cristo. A sedução da estética ritualística da
circuncisão havia capturado o intelecto e o coração dos gálatas.
O apóstolo Paulo, porém, os adverte com a seguinte mensagem:
“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos
chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl 1. 6). Mais
adiante diz: “Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós
outros, [...] (Gl 3. 1).
Os
gálatas que ouviram a gloriosa boa nova de salvação em
Cristo agora estavam prestes a abraçar um evangelho espúrio,
nascido no coração do homem, que não era do céu, mas da terra.
Eles, que tinham recebido o Espírito pela pregação da fé, agora
estavam atando sobre os ombros novamente o fardo da lei. Aqueles que
foram libertos por Cristo agora precisavam ouvir a solene
advertência: “Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de
novo, a jugo de escravidão” (Gl 5. 1). Eles, que começaram
no Espírito, agora estavam buscando o aperfeiçoamento pela
obra da carne.
Historicamente
fica comprovado que a igreja sempre teve que enfrentar os extremos.
Tais extremismos são oriundos de uma má interpretação bíblica e
uma falsa compreensão da vida cristã. Sempre que a hermenêutica
foi utilizada de modo inapropriado, os opostos surgiram como
consequência de equívoco, ou desvio exegético ou interpretativo.
Por exemplo, não é incomum encontrar nestes mais de dois séculos
da era cristã o surgimento de grupo que defendia a corrente
antinomista. Outras vezes, porém, do outro lado da “pista”
surgiam dentro da comunidade da fé aqueles que ardorosamente
abraçaram o velho farisaísmo sem vida. Enquanto que o primeiro
rejeita toda a lei, em nome da graça, o segundo apega a toda lei, em
nome da “santidade”.
Percebemos
que ao longo da história da igreja de Deus têm surgido as duas
vertentes. Aqui, porém falaremos apenas da segunda, para fazer jus
ao título do texto: “Os modernos fariseus”. Quem são os
modernos fariseus hodiernos? O que fazem? Antes, porém, urge
a necessidade de entendermos uma coisa aqui: o tempo passa, as eras
vão, as coisas mudam, mas aqueles que tentam adicionar novos
elementos ao evangelho jamais acabam. Em alguns casos até usam
novas vestes, porém as motivações são as mesmas do passado, ou
seja, desviar os crentes do verdadeiro evangelho da graça de Deus.
O
escritor inglês, John Bunyan, em sua magnífica obra, O
peregrino, conta que
durante a caminhada de Cristão, personagem fictício, surgem muitos
outros personagens, dentre os vários personagens, surge o senhor
Sábio-segundo-o-mundo. Cristão conta-lhe que a caminhada está
sendo difícil, porque o farto é pesado. Daí, Sábio diz que existe
uma vila chamada moralidade, onde mora um cavalheiro chamado
Legalidade. Com isso, cristão fica entusiasmado com a proposta e
envereda-se pelo caminho do atalho. Mais tarde, porém, encontra
Evangelista. Quando cristão vê Evangelista fica profundamente
envergonhado por ter seguindo outro rumo, todavia, Evangelista
traz-lhe uma palavra de exortação, mas também de consolo.
Evangelista, diz: “o meu justo viverá pela fé”.2
O grande problema do moderno fariseu é que não consegue vive
somente pela fé. Ele precisa de sua justiça própria, assim como de
outros instrumentos. Entretanto, fica o alerta: “Para aqueles, como
os fariseus, que buscam ser justificados mediante a própria justiça,
a lei surge para condenar e julgar”.3
A
história contada por Bunyan é um reflexo de muitos cristãos, que
seduzidos pelas vozes dos modernos fariseus vão para a vila
moralidade, a fim de receber ajuda do cavaleiro legalidade. Contudo,
na moralidade ninguém encontra alívio, pois legalidade não corta
as amarras do peso de ninguém, na verdade, ata outros fardos ainda
piores. Na caminhada, o cristão precisa ficar atento com as muitas
vozes que ecoam de vários cantos. A persuasão vem de todos os
lados, assim como vários mecanismos são utilizados para o
convencimento dos incautos. Ora usa-se a voz para convencer, algumas
vezes usa-se o comportamento para persuadir. Não importa quais são
os modos, o certo é que são manuseados de todas as formas.
Hoje, os modernos
fariseus são como camaleões, pois mudam de cor conforme a situação
e o momento. O grande problema dos modernos fariseus, porém, é
que não conseguem viver somente pela fé. Eles precisam de sua
justiça própria, assim como de outros instrumentos. Os fariseus
usam a capa da lei. Sua roupa é o legalismo pesado, sem vida e com
ranço de morte. Entretanto, fica o alerta: “Para aqueles, como os
fariseus, que buscam ser justificados mediante a própria justiça, a
lei surge para condenar e julgar”, afirma Michael Horton. Diz a
Escritura que: “qualquer que guarda toda a lei, mas torpeça em um
só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2. 10).
O
fariseu veste a capa da justiça própria. O legalismo é a roupa do
disfarce daquele que transmite uma aparência daquilo que não são,
porque uma de suas principais marcas é a hipocrisia. Por isso, urge
a necessidade de sermos vigilantes, porque a hipocrisia ronda-nos o
tempo inteiro. Ela está mais perto do que imaginamos. Só para ter
uma ideia, nem o apóstolo Pedro foi poupado de revelar o seu lado
hipócrita, porque está escrito que: “Com efeito, antes de
chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando,
porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo
os da circuncisão” (Gl 2. 12). Isto aconteceu, porque a face
hipócrita procura manter a política da boa vizinhança. Os
“hipócritas são fanáticos por aprovação”,4
A o aqui temos um
protótipo daquilo que é uma hipocrisia. O nosso lado hipócrita é
a face do fariseu.
Os
fariseus estão sempre buscando a aprovação de Deus por meio
daquilo que fazem ou deixam de fazer, porém, a Escritura é
categórica em afirmar que: “[…] é evidente que, pela lei,
ninguém é justificado diante de Deus” (Gl 3. 11). Os fariseus
supervalorizam as normas, os preceitos e as leis. O legalismo
farisaico é extremamente apegado a questão estética. Tal atitude,
porém é uma forma de adorar a nossa própria justiça, nossa
própria virtude e nossa própria força moral.5
Todavia, o conselho bíblico diz que sem fé é impossível agradar a
Deus (Hb 11. 6). Ele diz que, o justo viverá pela fé somente.
Saiba que no
mundo só existem duas religiões: a antropocêntrica e a
teocêntrica. A primeira está centralizada no homem. Ela enfatiza
que tudo depende do homem. A segunda tem como centro o Senhor Deus.
Ela destaca que tudo depende de Deus. Aqui fica evidente que os
modernos fariseus não são diferentes dos fariseus contemporâneos
de Jesus e dos apóstolos, pois têm os mesmos equívocos acerca do
perdão divino. Para eles, a graça é meritória. O favor divino é
conquistado humana. Ensinam que a justificação está atrelada
aquilo que fizemos ou deixamos de fazer. Todavia, quem procura
justificar-se por intermédio da observância da lei está insultando
a obra de Cristo.
Fica aqui,
portanto, o alerta, para aqueles que têm acatado a instrução dos
modernos fariseus, daqueles que tem buscado o favor de Deus pelas
obras que fazem. Porém, para você que começou com Cristo, a
palavra de incentivo é: continue somente com Cristo. A recomendação
bíblica diz: “de fé em fé, como está escrito: o justo viverá
por fé” (Rm 1. 17). Amado, não podemos começar no Espírito e
terminar na carne. Pleitear a justificação pela guarda da lei é
promover uma ruptura com a graça. Nossa justificação não é pela
lei das obras, mas pela lei da fé. O homem é justificado pela fé
somente.
Tome cuidado, porque
aquele que buscar a justificação pela instrumentalidade da lei,
impreterivelmente, será desligado da graça, porque está
escrito: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais
justificar-vos na lei; da graça decaístes” (Gl 5. 5). Enquanto a
lei da fé liga o pecador a Cristo, a lei da lei desliga o pecador da
graça. A lei da fé ergue o caído, a lei da lei derruba o que está
de pé. Uma conecta e levanta o homem, a outra desconecta e o
derruba. A justificação pela fé absolve o homem de seus
pecados; mas a justificação pela lei mantém o homem
debaixo do juízo divino. E você, tem permanecido na
justificação pela fé, ou tem buscado a justificação pela lei?
1
Os modernos fariseus é uma expressão que aparece na estrofe do
hino – 147, do Hinário Novo Cântico.
2
BUNAYAN, John; O peregrino. São Paulo: Mundo Cristão, 2006. p.
15-21.
3
HORTON, Michael; A lei da perfeita liberdade: a ética bíblica a
partir dos dez mandamentos. São Paulo: Cultura cristã, 1993. p.
24.
4
MANNING, Brennan; Falsos, metidos e impostores. São Paulo: Mundo
Cristã, 2008. p. 39.
5
HORTON, Michael; A lei da perfeita liberdade: a ética bíblica a
partir dos dez mandamentos. São Paulo: Cultura cristã, 1993. p.
39.
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