CRISTIANISMO E COSMOVISÃO


Olá a todos!
O nosso próximo Jovens em Ação já está marcado. Será no dia 25 de julho. O tema, Cosmovisão Cristã será apresentado pelo Pr. Gustavo Quintela, da Primeira Igreja Presberiana de Belo Horizonte-MG. Abaixo, uma introdução ao assunto, escrita pelo próprio Pr. Gustavo. Esperamos você lá!


CRISTIANISMO E COSMOVISÃO

Rev. Gustavo Henrique Quintela Franca

A obra do grande teólogo holandês Abraham Kuyper é o marco inaugural do estudo do cristianismo como uma cosmovisão. O termo cosmovisão é um conceito filosófico que surge no século XIX através dos trabalhos de Dilthey (1833-1911), Scheler, Spranger e Jaspers. Não obstante, sendo o estudo da cosmovisão de certo modo recente, tanto no pensamento filosófico quanto na teologia, mostrou-se frutífero e deveras importante para uma compreensão ampliada sobre o homem e sua organização social. Contudo, para vermos todos os efeitos benéficos do estudo da cosmovisão é mister buscar definições claras do conceito, dos elementos e das características desta.
Etimologicamente, o termo cosmovisão é composto por duas palavras: “cosmos” que significa “mundo” e a palavra visão. Destarte, podemos dizer de forma simplória que uma cosmovisão é nada mais que uma visão de mundo de uma pessoa determinada ou de um grupo social. Porém, a palavra grega kosmós possuí um campo semântico mais amplo que altera o significado do termo cosmovisão. A palavra cosmos não designa o mundo apenas como uma realidade material e sensível. Mas indica a ordem e a constituição da realidade que fundamenta e governa todas as coisas existentes. Estes fundamentos da realidade foram chamados pelos escritores trágicos de deuses e pelos filósofos de Logoi. Sendo assim, pode-se dizer sumariamente que uma cosmovisão é uma visão lógico-racional que ordena a realidade física e espiritual a partir de pressupostos de tal forma que se tenha um sistema coerente de crenças, valores e verdades.
Para melhor compreendermos o conceito faz-se necessário uma exposição dos elementos e das características de uma cosmovisão. Toda cosmovisão é composta dos seguintes elementos básicos: intuição, pressupostos, demonstração e relações demostrativas. Quando falamos de intuição apontamos para o fato de que uma cosmovisão principia por uma experiência imediata com a realidade que dá sentido a um grupo social. Tal experiência após ser sedimentada produz pressupostos que são elementos da crença de um grupo. Estes pressupostos funcionam como os axiomas na geometria, pois através deles é que se constrói o todo da cosmovisão. Em seguida, tem-se as demostrações que são as consequências teóricas e práticas das crenças aplicadas à realidade. Por fim, estabelecem-se as relações lógicas entre os pressupostos e as demonstrações que conferem coerência à cosmovisão e a sistematizam.
Em relação as características de uma cosmovisão podemos citar Dilthey que elenca cinco pontos essenciais da weltanschaung. (1) Uma cosmovisão visa a totalidade do real, (2) pretende compreender o todo por meio de uma visão sistemática fechada, (3) possui tendência logicista e dedutiva, (4) tem seu princípio fundador marcado pela experiência intuitiva (expressiva, personalista) e (5) tem caráter predominantemente moral. Portanto, devemos afirmar que toda civilização é fruto direto de uma cosmovisão. Tendo que todo indivíduo é parte de uma civilização em determinado momento da história é certo afirmar que todo indivíduo, necessariamente, está inserido em uma cosmovisão.
Estabelecidos estes princípios fundamentais para se compreender uma cosmovisão perceber-se-á de modo patente que o cristianismo é uma cosmovisão. Contudo, o elemento histórico nos apresenta o cristianismo não como uma realidade estanque, mas em transformação temporal. Com efeito, podemos localizar historicamente pelo menos quatro grandes cosmovisões que brotam do solo cultural cristão. Tendo em vista o propósito limitado deste texto vamos apenas enumerar estas cosmovisões que surgem a partir do cristianismo apostólico. São as seguintes as cosmovisões cristãs: o cristianismo ortodoxo, o cristianismo católico, o cristianismo reformado e o cristianismo moderno ou pós-cristianismo.
Cada uma dessas cosmovisões são chamadas de cristãs apenas pelo lastro histórico que as origina, entretanto, há em algumas delas deformações e desvios dos pressupostos do cristianismo original. É preciso salientar neste momento que o cristianismo original não deve ser tomado como uma cosmovisão pronta e acabada. Antes, o período apostólico lançou os fundamentos e pressupostos que foram desenvolvidos e sistematizados historicamente. Deste modo, uma visão cristã que busque o restabelecimento do passado por meio de uma volta ao tempo apostólico incorre em erro crasso que favorecerá uma cosmovisão cristã equivocada.
Para fechar o presente artigo é meu desejo ao menos esboçar quais os princípios fundamentais da cosmovisão cristã. Estes princípios podem ser sintetizados nos seguintes termos: Criação-Queda-Redenção. Assim, os pressupostos cristãos se arrimam na crença em um Deus transcendente Todo-poderoso que cria o universo físico como expressão da sua graça e não por necessidade. Este universo, contudo, não se encontra atualmente num estado de normalidade. O mal que permeia a criação é decorrência da Queda dos agentes morais criados por Deus. Todavia, o cristianismo assevera que a Queda não é o estado final da humanidade e do mundo, mas Deus, livremente, decidiu redimir a criação destruindo o mal e restabelecendo a ordem. Esta redenção que é iniciativa do próprio Deus se dá por meio de Cristo, o Deus encarnado. Doravante, conclui-se que o mundo possuí um destino escatológico, um propósito eterno que lhe é dado por Deus.
A partir destas verdades simples e básicas que o cristianismo constrói toda sua visão de mundo. Uma civilização inteira se apóia nestes alicerces conformando sua religião, ciência, artes, economia, política, enfim, toda sua existência. O modo pelo qual dos pressupostos se deriva os sistemas e áreas de atuação, se Deus nos permitir, será o alvo de outro texto.

Breve Bibliografia Recomendada:
COLSON, C & PEARCEY, N. E agora como viveremos. CPAD, 2000.
KUYPER, A . Calvinismo. ECC, 2002.
MORELAND, J. P. & CRAIG, W. L. Filosofia e Cosmovisão Cristã. Vida Nova, 2008.
SANTOS, Mário F. Filosofia e Cosmovisão. Lógos, 1955.
SIRE, J. W. O Universo ao Lado. Editorial Press, 2001.

Soli Deo Gloria

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