ARREPENDIMENTO: GRAÇA DIVINA E RESPONSABILIDADE HUMANA


A mensagem cristã, contudo, deve contemplar em seu bojo a doutrina do arrependimento não como verdade secundária, mas como parte essencial da verdadeira pregação bíblica.



Certa feita, numa situação ocasional, ouvi numa entrevista de rádio a declaração de um jovem que afirmava não se arrepender de nada que fizera. O entrevistador, diante daquela declaração, imediatamente respondeu que aquele tipo de comportamento não devia ser encarado como normal, pelo contrário, devia ser encarado como uma conduta anormal. A falta de arrependimento, além de ser considerada uma anomalia, também não é saudável. Se por um lado alguns ignoram a necessidade do arrependimento, por outro, aqueles que deveriam falar têm se esquivado da sua responsabilidade.
Hoje, entretanto, lamentavelmente, muitos pregadores contemporâneos não confrontam o povo com uma pregação que exige do pecador arrependimento. Uma fatia considerável dos púlpitos das igrejas atuais revela uma escassez de mensagens cuja reivindicação do evangelho, como um imperativo divino inegociável, tem sido deixada de lado. Com isso, o homem não tem sido confrontado para que se arrependa de seus pecados. A mensagem cristã, contudo, deve contemplar em seu bojo a doutrina do arrependimento não como verdade secundária, mas como parte essencial da verdadeira pregação bíblica.
Os teólogos de Westminster disseram que: “O arrependimento para a vida é uma graça evangélica, doutrina esta que deve ser pregada por todo ministro do evangelho, tanto quanto a da fé em Cristo” (CFW). Podemos afirmar com veemência que a ausência da reivindicação feita pelo evangelho, numa mensagem entregue por parte daquele que se intitula ministro de Cristo, por certo é clara ruptura com aquilo que foi realizado pelo Senhor Jesus e pelos apóstolos. Na verdade, mensagem sem a exigência do arrependimento e uma pregação que releva uma falta de compromisso com aquilo que é ensinado pela (na) Escritura.
A Bíblia registra que o Senhor Jesus, após ser batizado, iniciou o seu ministério com a pregação. Sua mensagem contemplava as duas reivindicações feitas pelo evangelho: “O tempo está cumprindo, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Da mesma forma, os apóstolos, assim que foram revestidos de poder (At 2. 1-4), pregaram o evangelho e arrancaram dos ouvintes a seguinte pergunta: “que faremos, irmãos?” (At 2.37). E a resposta foi: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38). Note, portanto, que tanto o Senhor Jesus como os apóstolos não deixaram para um plano secundário a exigência do evangelho. Aqui, entretanto, precisamos pontuar dois aspectos do arrependimento:
1) Primeiro, o arrependimento é uma graça divina. Vamos entender uma coisa aqui: todos nascemos com o coração de pedra e a mente cauterizada. Não há sensibilidade nem disposição para que o homem se arrependa de seus maus caminhos. O pecador precisa arrepender-se de seus pecados, mas não pode nem tem condição de fazê-lo. De sorte que, se Deus não conceder ao homem a dádiva preciosa do arrependimento, o pecador jamais se arrependerá de seus pecados. Por isso mesmo, Pedro, depois de pregar o evangelho para o centurião Cornélio, seus familiares e seus amigos, teve que prestar um relatório aos líderes em Jerusalém. Lá, dentre outras coisas, Pedro falou sobre o arrependimento. Ele disse: “Logo, também aos gentios Deus concedeu o arrependimento que conduz à vida” (At 11.18). Fica claro que foi Deus quem concedeu graciosamente o arrependimento, sendo ele uma ação fundida pela operação da graça divina e não uma reação natural. O homem não pode negar que é a bondade de Deus que o conduz ao arrependimento (Rm 2.4). A doação da graça do arrependimento faz com que o homem tenha consciência de seus muitos pecados cometidos. Com isso, Deus efetua uma tristeza no coração humano, do qual brota verdadeira confissão e resulta na salvação eterna.
2) Segundo, o arrependimento é uma responsabilidade humana. O arrependimento é uma graça concedida pelo Senhor. Todavia, o Senhor não se arrepende pelo homem. O pecador tem o dever de evidenciar arrependimento para com Deus (At 20.21). A mensagem do evangelho exige que o pecador se arrependa. O arrependimento é uma necessidade imprescindível para que o pecador receba o perdão. O homem pecou, logo cabe ao homem arrepender-se de suas impiedades. Todavia, ninguém deve pensar que o arrependimento é a causa do perdão. Mas também é correto afirmar que sem arrependimento não existe perdão. Sua necessidade é vital: “ele é de tal modo necessário aos pecadores que, sem ele, ninguém poderá esperar o perdão” (CFW). Assim como ninguém é salvo sem fé, ninguém é perdoado sem arrependimento. De forma que: “Como não há pecado tão pequeno que não mereça a condenação, assim também não há pecado tão grande que possa trazer a condenação sobre os que se arrependem verdadeiramente” (CFW). Cabe ao homem, todavia, arrepender-se de seus pecados. É responsabilidade do homem se arrepender.
Duas coisas precisam ser acasaladas aqui: primeiro, a igreja precisa entender que a nossa salvação foi planejada por Deus, foi executada pelo seu Filho e foi aplicada pelo seu Espírito em nosso coração. Nossa salvação foi iniciada, tem sido mantida e será plenificada por Deus. Segundo, a igreja precisa entender que cabe ao homem arrepender-se de seus pecados. Ele é totalmente responsável diante de Deus. O homem tem que prestar contas de todos os seus atos. Deus o concede a graça, mas cabe ao homem exercitá-la para a sua salvação.    

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