O FRACASSO DO ESFORÇO HUMANO NA BUSCA DA JUSTIFICAÇÃO

A Epístola aos Gálatas pode ser dividida em três seções: 1) A primeira seção (Cap. 1, 2) tem um caráter auto-biográfico. Nela Paulo faz uma defesade seu chamado e sua credencial apostólica. 2) A segunda seção (Cap. 3, 4) tem um caráter mais doutrinário. Nela Paulo combate o pernicioso ensino legalista dos judaizantes. 3) A terceira seção (Cap. 5, 6) tem um caráter mais prático. Nela Paulo argumenta como o cristão deve viver, apresentando-lhe algumas implicações éticas da verdadeira liberdade cristã.

A Epístola de Paulo aos Gálatas tem sido chamada de Carta Magna da liberdade cristã. Tal nomenclatura faz jus aquilo que o apóstolo ensina, pois, diz: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou, permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5. 1).

Robert H. Gundry, afirma que: “[...] a epístola aos Gálatas é a grande carta patente da liberdade cristã, que nos livra de todas as opressivas teologias de salvação através dos esforços humanos, e que, por outro lado, serve de grandiosa afirmação da unidade (não uniformidade) e igualdade de todos os crentes, dentro da Igreja de Jesus Cristo”.[1]   

Para Broadus David Hale, “[...], Gálatas é o manifesto de Paulo contra a perversão da graça de Deus. A contínua batalha entre o legalismo e a graça de Deus é definida nesse livro”.[2] O legalismo escraviza o homem, pois o convence de que a graça de Deus só será recebida definitivamente mediante o esforço meritório.

Para Merril C. Tenney, Gálatas é “[...] um protesto contra a distorção do evangelho de Cristo”.[3] Desde o início da Epístola, Paulo revela a sua indignação e perplexidade: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl 1. 6).

Nessa Carta fica claro que a graça da justificação de maneira nenhuma é resultado da observância da lei. A argumentação de Paulo parte da experiência vivida no passado por aqueles crentes, para relembrá-los que a justificação é pela fé somente.

A tônica do ensino apostólico aqui é a doutrina da justificação pela fé somente, então, para isso, Paulo recorre a algo que havia acontecido com aqueles cristãos quando ouviram a mensagem da cruz.

Sendo assim, perguntamos: o que determina que um indivíduo é verdadeiramente um cristão? Seria tão somente a fé naquilo que Deus realizou por intermédio de seu Filho? A fé é suficiente para a nossa justificação? Seria a fé em Cristo mais a incorporação de ritos do judaísmo ou coisa parecida?

Os judaizantes diziam que a fé não era suficiente. Era necessário agregar os ritos, especialmente o rito da circuncisão (At 15. 1). Porém, o ensino judaizante comprometia a mensagem do evangelho. Por isso, o apóstolo Paulo trata o assunto com enérgica veemência.
   
·        Crentes insensatos (Gl 1. 1).
Na primeira seção, Paulo havia feito uma defesa da suficiência do evangelho da graça de Deus. O apóstolo havia mostrado o “[...] contraste entre a mensagem judaizante, a qual requeria a aderência à lei mosaica como condição de salvação”[4] (Gl 2. 16).

Paulo tanto comporta-se como apóstolo que é, mas também como pastor para tratar a questão. Ele se dirigi àqueles cristãos chamando-os de irmãos (Gl 1. 2, 11; 3. 15; 4. 28, 31; 5. 13; 6. 1, 18). Mas, além disso, também toma a figura de uma mãe para se dirigir àqueles cristãos. Ele diz: “meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós;” (Gl 4. 19). Paulo é um pastor amoroso, mas também é um profeta ousado.    

Você já viu um pai irritado? Aqui Paulo age como um pai irritado por causa da atitude insensata de seus filhos. Um pai irritado por causa da insensatez de um filho, diria: “você perdeu o juízo?”. A postura daquela igreja era fruto de falta de juízo.

Trocar a graça pelo legalismo, a fé pela obra da lei, era um regresso absurdo. Era cometer aquilo que Paulo alerta: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes” (Gl 5. 4).

Buscar a justificação por meio da circuncisão era sinal de falta de compreensão e raciocínio. Era como se aqueles cristãos tivessem abandonado o uso da razão. Buscar a justificação por meio de obras da lei, afirma Donald: “[...] sugere não só incapacidade de pensar quanto falha em fazer uso dos poderes mentais”. [5] Ou conforme afirma Davidson, aqueles crentes estavam “[...] destituídos de bom senso”.[6] 

O método de Paulo, portanto tem como finalidade despertar a consciência daqueles cristãos. Para alcançar êxito, o apóstolo utiliza como método cinco perguntas retóricas, para fazer com que os cristãos da Gálacia percebam o grande equívoco que estavam cometendo (Gl 3. 1-5). Dê uma conferida no texto, por certo você será enriquecido.




[1] GUNDRY, Robert H.; Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1978. p. 290.
[2] HALE, Broadus David; Introdução ao estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001. p. 247.
[3] TENNEY, Merril C.; O Novo Testamento sua origem e análise. São Paulo: Shedd, 2008. p. 281.
[4] GUNDRY, Robert H.; Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1978. p. 293.
[5] GUTHRIE, Donald; Gálatas: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1984. p. 114.
[6] DAVIDSON, F.; O Novo comentário da Bílbia. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 1238. 

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